Publicado em 10.01.2012, às 23h12
Confusão só foi controlada depois da entrada do Batalhão de Choque na unidade
Fotos: Guga Matos/JC Imagem
Do NE10
Internos da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife, promoveram uma rebelião sangrenta, na noite desta terça-feira (10). Um dos jovens teve a cabeça decapitada e pelo menos outros dois morreram durante um dos mais violentos episódios registrados na instituição. Do lado de fora, o cenário era desolador. Familiares desesperados esperavam informações sobre a situação dos internos enquanto o Batalhão de Choque e Corpo de Bombeiros invadiam a Funase em chamas.
Lá dentro, os policiais encontraram o corpo do jovem que havia sido decapitado pedurado em uma trave de futebol, completamente queimado. A cabeça, que foi cortada com uma arma artesanal, é de um jovem de 21 anos, indentificado apenas como Geleia. Enrolada em uma epécie de lençol azul, a cabeça foi jogada para fora do prédio. O jovem assassinado era chefe de uma facção criminosa dentro da Funase. O Instituto de Criminalística já recolheu a cabeça.
SEGURANÇA Clima de guerra se instalou nas imediações da unidade da Funase
A rebelião aconteceu no Pavilhão A, conhecido como ala de segurança da unidade, onde ficam reclusos os internos com idades entre 18 e 21 anos. A confusão teve início por volta das 17h e seguiu para os demais pavilhões da unidade. A situação só se acalmou por volta das 23h, depois que cerca de 30 policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar entraram no local. Mais cedo, os adolescentes que haviam tomado toda a unidade chegaram a forçar as grades para tentar fugir do prédio.
TENSÃO Carros do lado de fora da unidade foram atingidos pelas pedras
Durante a invasão da polícia foram usadas balas e bombas de efeito moral, além de gás lacrimogênio. Três agentes socioeducativos que tinham sido feitos reféns foram libertados pouco depois da entrada do Batalhão do Choque na unidade. Em meio à confusão, um policial militar foi ferido na cabeça, resultado das pedras jogadas de dentro para fora da unidade pelos reeducandos que resistiam à entrada dos PMs.
FOGO Batalhão de Choque da PM invade Funase em chamas
Na rebelião, os reeducandos atearam fogo em colchões dentro de uma das celas. O incêndio se alastrou por boa parte da instituição. Para apagar as chamas, duas viaturas do Corpo de Bombeiros foram acionadas. A polícia chegou a fechar a Estrada de Pirapama que dá acesso a unidade socioeducativa.
De acordo com a mãe de um dos internos, em entrevista à Rádio Calheta, o motivo para a rebelião seria insatisfação com a direção da unidade.
Em reposta, a diretora da unidade, Suzete Lúcio, disse que os internos estão insatisfeitos com a gestão dela por causa da repressão da entrada de drogas e prostituição. "Estávamos tentando reorganizar a unidade com atividades interdisciplinares, atividades artesanais, construímos uma guarda poliesportiva para eles. O problema é que estamos tentando ao máximo proibir a entrada de drogas e coibir a prostituição. Isto está deixando os internos descontentes", afirmou para a reportagem do Jornal do Commercio. [Veja o vídeo]
A unidade tem capacidade para 166 adolescentes e atualmente 368 estão cumprindo medida sócioeducativa.
Após a confusão, a delegada do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) Gleide Ângelo deu uma entrevista no local dizendo que a polícia já tem de cinco a sete suspeitos pelas mortes e informou que eles serão ouvidos pela polícia. Como os suspeitos já são maiores de idade, eles poderão seguir para o Centro de Triagem (Cotel), em Abreu e Lima. "O cenário lá dentro é barbárie, tudo está destruído, queimado. Há muita pedra, mas ainda não achamos armas", descreveu a delegada.
HISTÓRICO - Em 23 de maio do ano passado, a unidade do Cabo sofreu um motim, que terminou com cinco adolescentes feridos. Na ocasião, os agentes foram rendidos ao abrir os portões do pavilhão dois. Armas confeccionadas a partir de restos de obras em andamento foram usadas. Três adolescentes fugiram. Dois deles foram capturados.
FUTURO - No ano passado, a então secretária da Infância e Juventude, Raquel Lyra, prometeu que os centros (do Cabo e Abreu e Lima) seriam desativados até 2014. Em entrevista ao Jornal do Commercio ela os comparou a uma penitenciária: “se assemelham a um presídio”. Segundo a promessa, a mudança atenderá aos padrões do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase). O sistema define uma série de regras e padrões arquitetônicos para a construção de locais destinados a abrigar menores.
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